quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Motoboys se expõem a riscos no trânsito

Levantamento feito em Londrina e Maringá mostra que quase 90% trabalham mais de dez horas por dia e não deixam de dirigir mesmo quando estão cansados.




Uma pesquisa realizada com motoboys de duas cidades paranaenses mostra que muitos destes trabalhadores dirigem mesmo se sentindo cansados.

Para 84,4% dos 377 motoboys entrevistados em Londrina, o cansaço não impedia que eles seguissem com suas atividades.
Em Maringá, o percentual foi de 71,4% entre os 500 trabalhadores pesquisados.

O estudo – feito pelas universidades estaduais de Londrina e Maringá – foi publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública, periódico da Fiocruz.
De acordo com o artigo, trabalhar cansado foi a principal situação de risco no trânsito reportada pelos motoboys.
O cansaço diminui os reflexos e a atenção e, por isso, pode acarretar acidentes por falhas humanas.

Sociedade apressada: Segundo a fisioterapeuta Daniela Wosiack da Silva, a sanitarista Selma Maffei de Andrade e co-autores, em uma sociedade como a nossa, cada vez mais apressada, a tendência ao aumento do número de motoboys "parece irreversível a curto e médio prazo".
O aumento pode estar associado ao crescimento do desemprego, sobretudo entre os mais jovens.

Os pesquisadores lembram que a profissão de motoboy ainda não está regulamentada no Brasil, o que pode acarretar informalidade, condições precárias de trabalho e risco de acidentes de trânsito.
Algumas cidades regulamentam a profissão por meio de decretos municipais, como São Paulo e João Pessoa, mas isso não ocorre em Londrina nem em Maringá.

Perfil dos motoboys:
Daniela, Selma e equipe analisaram o perfil dos motoboys nas duas cidades paranaenses.

Do total de 877 motoboys pesquisados, praticamente todos eram do sexo masculino; mais de 80% apresentavam oito anos ou mais de escolaridade; e mais de 70% dirigiam motos há, pelo menos, cinco anos. A média de idade ficou entre 28 e 29 anos.
Em Londrina, os motoboys atuavam, principalmente, em restaurantes, lanchonetes ou pizzarias. Já em Maringá, além das empresas do setor de alimentação, destacaram-se também as especializadas em entregas e as farmácias ou drogarias.

Os pesquisadores investigaram, ainda, as condições de trabalho e as situações de risco vivenciadas pelos motoboys.

Em Londrina, 66% destes trabalhadores não tinham salário fixo, isto é, ganhavam por produtividade (por quantidade de entregas feitas); 52,8% utilizavam capacete aberto (sem proteção para a mandíbula); 46,4% trabalhavam tanto de dia como de noite; 42,4% trabalhavam dez horas ou mais por dia; 28,6% dirigiam em velocidade superior a 80 km/h nas ruas da cidade; e 23,9% usavam celular ou rádio no trânsito.

Em Maringá, esses percentuais também foram elevados, embora menores que os observados em Londrina: 47,7%; 33,4%; 33,7%; 34%; 20,6%; e 21,8%, respectivamente.

Motoboys de Londrina "Os motoboys atuantes em Londrina relataram piores condições de trabalho e maior exposição a situações de risco para a ocorrência de acidentes de trânsito do que os de Maringá", dizem Daniela, Selma e co-autores no artigo.

Contudo, "em ambas as cidades, foram relatadas condições de trabalho adversas e exposição a situações de risco para a ocorrência de acidentes de trânsito, como ganho por produtividade, longas jornadas de trabalho, hábito de dirigir a motocicleta ainda que bastante cansados, alternância de turnos de trabalho e adoção de altas velocidades nas ruas".

Também foi perguntado aos motoboys se eles tinham sofrido algum acidente de trânsito, durante as atividades de trabalho, nos 12 meses anteriores à entrevista.
As taxas relatadas ficaram entre 2,8 e 2,9 acidentes de moto por 100 trabalhadores por mês, o que pode ser considerado um valor elevado.
"Em uma escala de valores, a segurança acaba ocupando posição secundária em relação ao cumprimento das demandas de trabalho e da remuneração por produtividade", afirmam os pesquisadores.
"As exigências de pontualidade, presteza e confiabilidade são o principal fator para adoção de comportamentos de risco no trânsito".

Para a redução dos riscos, Daniela, Selma e equipe recomendam que se regulamente a profissão de motoboy e que se aumente a fiscalização sobre as empresas que oferecem serviços prestados por estes trabalhadores.

As informações são da Agência Fiocruz de Notícias.

Um comentário:

  1. O quadro geral no Brasil pode ser apontado por esta pesquisa nestas duas cidades. Sintomático que ao se exporem mais horas, e nas condições do trãnsito cada vez mais caótico, o cansaço pode ser uma das causas do elevado número de acidentes. No entanto, são as condições materiais de produção do trabalhador que determinam que esta profissão ganhe status de alto risco. É certo que ao operarem autonomamente seu serviço, os profissionais motociclistas vêem-se lançados a lei do mercado. Somente quando eles se constituirem enquanto classe profissional, terão condições de reverterem as condições que hoje sacrificam e exploram estes profissionais. Trata-se de se auto-organizarem através de cooperativas, e exigindo das prefeituras uma regulamentação, terão controle sobre o processo de produção. Impedindo assim, as empresas de esfolarem sem contrapartida os motociclistas.

    Eliezer - Coordenador canal*MOTOBOY
    www.zexe.net/saopaulo

    ResponderExcluir

Dê sua opinião.